26 abril 2022

Intervenção da CDU na Sessão Solene da Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos no âmbito das Comemorações do 48.º Aniversário da Revolução do 25 de Abril

 


As comemorações do 25 de Abril em 2022, ainda se revertem de maior simbolismo visto ser este ano que o tempo de sermos livres superou os 48 anos em que vivemos amordaçados, por uma ditadura fascista de direita protagonizada por Salazar e Caetano e que tornou Portugal o país mais pobre, atrasado e isolado da Europa.

Com a manhã libertadora do 25 de Abril de 1974 foi possível ao povo sonhar com tudo aquilo que durante quase 5 décadas lhe foi negado por um regime alicerçado por uma polícia política repressiva chamada PIDE e por um conjunto de oligarcas, que mesmo representando uma pequeníssima percentagem de cidadãos, eram os donos disto tudo. Ao povo restava trabalhar sem quaisquer direitos, ter a pobreza e a fome por companhia e o Aljube, Peniche, Caxias ou o Tarrafal como destino quando ousavam organizar-se e protestar. Sonhámos com igualdade de oportunidades, com justiça social, com direito à saúde, à educação, à justiça e à paz. Passados 48 anos a igualdade de oportunidades continua a ser uma miragem e o fosso entre ricos e pobres não para de aumentar.

Falar de justiça social num país onde, por exemplo, durante a intervenção da troika entre 2011 e 2015 provocada pelos desvarios e incompetência dos governos Sócrates e Passos-Portas, os 10 % de portugueses mais abastados viram os seus rendimentos afectados em 6 %, enquanto que os 10 % mais pobres foram prejudicados em 24 %. Justiça social quando o atual governo dá 450 mil euros ao grupo SONAE para complemento do salário mínimo – como se um grande grupo económico que deu 268 milhões de euros de lucro em 2021 não pudesse suportar o aumento do salário mínimo aos seus trabalhadores – para de imediato aumentar o vencimento da sua CEO em 400 mil euros anuais. Falar de justiça social enquanto alguns esbanjam milhões nas mais impensáveis extravagâncias, e a uma parte dos mais pobres dos 2 milhões de pobres é dado um voucher de 60 euros para comer, fazendo lembrar os tempos do fascismo em que aos pobres era dado uma senha para adquirir pão, azeite e petróleo, apesar de terem de o pagar.

A saúde, que era um privilégio de quem tinha posses, passou após o 25 de Abril, primeiro com o Serviço Médico à Periferia (1975-1982) e depois com o Serviço Nacional de Saúde (1979), tornou-se numa das principais vitórias do povo português onde, apesar de todos os ataques que sofre por parte dos mercantilistas da saúde privada e da falta de investimento e de reconhecimento dos seus profissionais por parte dos sucessivos governos PS-PSD-CDS, vai respondendo com grande abnegação, para que ninguém fique sem assistência médica. Não temos qualquer dúvida de que, se com o SNS tivemos cerca de 22 mil mortos por covid-19 até ao momento, se estivéssemos nas mãos dos empreendedores estaríamos a falar de um número tremendamente superior.

A Educação foi outra das grandes conquistas de Abril, pois não podemos esquecer que em 1974 cerca de metade dos portugueses eram analfabetos ou não tinham a escolaridade obrigatória à época (4.ª classe). Tal como a Saúde é outra área de grande cobiça por parte dos privados, que todos os anos encenam uma falácia a que chamam ranking’s de qualidade, tentando provar que nos “colégios dos betinhos” se conseguem melhores resultados do que na escola pública. Só não dizem é que, entre outras mentiras, essa é conseguida através do processo explicador/professor, ou seja, o teste feito hoje no colégio, foi ontem tratado na casa do explicador que, regra geral, são a mesma pessoa. E a prova é que quando alguns alunos oriundos dos colégios ingressa nas universidades públicas, andam por norma, os primeiros dois anos a apanhar papéis. Mas pensando nesse inconveniente, também existem as universidades para os meninos de bem. Foi aliás este princípio que no passado fascista dava corpo à lógica de que se és rico serás doutor ou engenheiro, se és pobre, por mais inteligente que sejas, serás operário ou pastor.

A Justiça é, em nossa opinião, aquela onde menos se avançou, continua tão lenta como antes, inacessível à grande maioria dos portugueses pelos custos que comporta. Continua muito forte para os fracos – facilmente se condena um ladrão de galinhas a 6 ou 10 anos de prisão – e muito fraca para com os fortes, basta citarmos os casos de Berardo, Rendeiro, Oliveira e Costa, Vara, Salgado, Sócrates, Dias Loureiro, Pinho, Mexia, e por aí fora, onde apesar de “alegadamente” se terem roubado muitos milhares de milhões de euros, vão conseguindo engendrar esquemas, expedientes e recursos até os casos prescreverem ou serem considerados muito velhos serem efectivamente presos. Já para não falarmos do vergonhoso veredito que libertou um conhecido nazi das suas obrigações condenatórias para se ir juntar ao bando de criminosos nazis internacionais, e assim conseguir armas e contactos para prosseguir as actividades ilícitas, racistas e xenófobas no nosso país.

Por fim a Paz. Falar de Paz quando só por ignorância, má fé ou deformação congénita se pode não deixar de condenar a invasão russa da Ucrânia a mando de um autocrata de ultra direita nacionalista chamado Putin, guru da oligarquia, paladino da flat tax tão do agrado dos liberais tugas e dos vistos gold para os seus compatriotas endinheirados e empenhado financiador da extrema-direita por essa Europa fora: de Orban ao Vox espanhol, de Le Pen a Salvini, dos brexit’s britânicos à Afd germânica, tudo gente altamente recomendável e muito amiga do 4.º pastorinho de Fátima e do bombista do MDLP.

Nada justifica a violação do direito internacional e, mesmo considerando que a primeira grande derrota desta guerra é a verdade, a outra é sempre o povo, homens, mulheres e crianças que em nada contribuíram para os horrores pelos quais estão a passar. Mas não foi só na Ucrânia que o direito internacional foi e está a ser violado. Relembremos o Iraque, a Líbia, a Síria, o Afeganistão, a Jugoslávia, o Iemen, a Somália e a Palestina, só para nos referirmos a situações das quais todos temos ou deveríamos ter memória, e dos seus milhões de mortos e refugiados, para não falar da destruição material e económica desses países. Infelizmente, nestes casos a posição da União Europeia e dos nossos governos foi e é manifestamente contraditória para com a atual, a que não é alheio o facto de os agressores serem os EUA, Israel e a Arábia Saudita, a quem prestamos vassalagem e submissão por motivos económicos.

Erguemo-nos pela liberdade de opinião, de pensamento, de crítica, pela tolerância, contra a ditadura do pensamento único e do maniqueísmo simplista, como se numa guerra ou num conflito fosse sequer possível explicar ou perceber algo complexo com meia dúzia de palavras de ordem, como se estivéssemos no twitter a contar os caracteres para não exceder o limite da mensagem.

A nossa total e completa solidariedade vai para com os refugiados desta e de todas as guerras. Não aceitamos que os refugiados provenientes do Iraque, da Síria ou da Líbia sejam barrados nas fronteiras da Hungria ou da Polónia, onde também subsistem dois “exemplares” governos de extrema-direita, erguendo muros e barreiras para quem tem a pele morena ou negra, recambiando-os para a Turquia de Erdogan, a quem a União Europeia paga balúrdios para suster refugiados nas suas fronteiras. O mesmo Erdogan que pratica os mais abjectos crimes de guerra contra o povo curdo e apoia firmemente a ofensiva genocida do Azerbaijão na Arménia. Estamos perante, como alguém lhe chamou, as “barreiras de auto-preservação geográfica”, conceito que tenta ilibar das responsabilidades todos aqueles que nesta dita Europa civilizada ainda exibem preconceitos com base na cor da pele, da religião, da ideologia ou do país de nascimento.

Sabemos como a direita portuguesa se tem esforçado ao longo das últimas décadas para apagar a história, mas por mais dinheiro que despejem nos media dominantes, conclui-se que as atrocidades que o exército russo a mando do tirano Putin está a fazer na Ucrânia, ou o que batalhão nazi Azov fez na região do Donbass nos últimos 8 anos, é exactamente igual àquilo que o exército português fez aos povos de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau durante a guerra colonial a mando do tirano Salazar. Massacres como os de Wyryamu (Moçambique, 16-12-1972), Mueda (Moçambique, 16-06-1960), Pidjiguiti (Guiné-Bissau, 03-08-1959), Batepá (São Tomé e Príncipe, 03-02-1953) e Cassanje (Angola, 04-01-1961), são páginas negras da história de Portugal e que são convenientemente chutados para o rodapé da História, recauchutados com o vasto eufemismo de “Descobrimentos”, quando se englobam num dos actos mais ignóbeis da humanidade que é o Colonialismo. A diferença é que para os russos e oligarcas justificarem a intervenção militar dizem que os ucranianos são todos nazis, enquanto que para Salazar e os seus colonos e fazendeiros os africanos eram turras e terroristas.

Viva o 25 de Abril!

25 de Abril Sempre!

Solidariedade para com todos os povos vítimas de guerras e refugiados de todo o mundo!

Viva Portugal! 


Os eleitos da CDU na Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos,

João Abrantes

Arminda Nunes