As comemorações do 25 de Abril em
2022, ainda se revertem de maior simbolismo visto ser este ano que o tempo de
sermos livres superou os 48 anos em que vivemos amordaçados, por uma ditadura
fascista de direita protagonizada por Salazar e Caetano e que tornou Portugal o
país mais pobre, atrasado e isolado da Europa.
Com a manhã libertadora do 25 de Abril
de 1974 foi possível ao povo sonhar com tudo aquilo que durante quase 5 décadas
lhe foi negado por um regime alicerçado por uma polícia política repressiva
chamada PIDE e por um conjunto de oligarcas, que mesmo representando uma
pequeníssima percentagem de cidadãos, eram os donos disto tudo. Ao povo restava
trabalhar sem quaisquer direitos, ter a pobreza e a fome por companhia e o
Aljube, Peniche, Caxias ou o Tarrafal como destino quando ousavam organizar-se
e protestar. Sonhámos com igualdade de oportunidades, com justiça social, com
direito à saúde, à educação, à justiça e à paz. Passados 48 anos a igualdade de
oportunidades continua a ser uma miragem e o fosso entre ricos e pobres não
para de aumentar.
Falar de justiça social num país onde,
por exemplo, durante a intervenção da troika entre 2011 e 2015 provocada pelos
desvarios e incompetência dos governos Sócrates e Passos-Portas, os 10 % de
portugueses mais abastados viram os seus rendimentos afectados em 6 %, enquanto
que os 10 % mais pobres foram prejudicados em 24 %. Justiça social quando o
atual governo dá 450 mil euros ao grupo SONAE para complemento do salário
mínimo – como se um grande grupo económico que deu 268 milhões de euros de
lucro em 2021 não pudesse suportar o aumento do salário mínimo aos seus
trabalhadores – para de imediato aumentar o vencimento da sua CEO em 400 mil
euros anuais. Falar de justiça social enquanto alguns esbanjam milhões nas
mais impensáveis extravagâncias, e a uma parte dos mais pobres dos 2 milhões de
pobres é dado um voucher de 60 euros para comer, fazendo lembrar os tempos do
fascismo em que aos pobres era dado uma senha para adquirir pão, azeite e
petróleo, apesar de terem de o pagar.
A saúde, que era um privilégio de quem
tinha posses, passou após o 25 de Abril, primeiro com o Serviço Médico à
Periferia (1975-1982) e depois com o Serviço Nacional de Saúde (1979),
tornou-se numa das principais vitórias do povo português onde, apesar de todos
os ataques que sofre por parte dos mercantilistas da saúde privada e da falta
de investimento e de reconhecimento dos seus profissionais por parte dos
sucessivos governos PS-PSD-CDS, vai respondendo com grande abnegação, para que
ninguém fique sem assistência médica. Não temos qualquer dúvida de que, se com
o SNS tivemos cerca de 22 mil mortos por covid-19 até ao momento, se
estivéssemos nas mãos dos empreendedores estaríamos a falar de um número
tremendamente superior.
A Educação foi outra das grandes
conquistas de Abril, pois não podemos esquecer que em 1974 cerca de metade dos
portugueses eram analfabetos ou não tinham a escolaridade obrigatória à época
(4.ª classe). Tal como a Saúde é outra área de grande cobiça por parte dos
privados, que todos os anos encenam uma falácia a que chamam ranking’s de
qualidade, tentando provar que nos “colégios dos betinhos” se conseguem
melhores resultados do que na escola pública. Só não dizem é que, entre outras
mentiras, essa é conseguida através do processo explicador/professor, ou seja,
o teste feito hoje no colégio, foi ontem tratado na casa do explicador que,
regra geral, são a mesma pessoa. E a prova é que quando alguns alunos oriundos
dos colégios ingressa nas universidades públicas, andam por norma, os primeiros
dois anos a apanhar papéis. Mas pensando nesse inconveniente, também existem as
universidades para os meninos de bem. Foi aliás este princípio que no passado
fascista dava corpo à lógica de que se és rico serás doutor ou engenheiro, se
és pobre, por mais inteligente que sejas, serás operário ou pastor.
A Justiça é, em nossa opinião, aquela
onde menos se avançou, continua tão lenta como antes, inacessível à grande
maioria dos portugueses pelos custos que comporta. Continua muito forte para os
fracos – facilmente se condena um ladrão de galinhas a 6 ou 10 anos de prisão –
e muito fraca para com os fortes, basta citarmos os casos de Berardo, Rendeiro,
Oliveira e Costa, Vara, Salgado, Sócrates, Dias Loureiro, Pinho, Mexia, e por
aí fora, onde apesar de “alegadamente” se terem roubado muitos milhares de
milhões de euros, vão conseguindo engendrar esquemas, expedientes e recursos
até os casos prescreverem ou serem considerados muito velhos serem
efectivamente presos. Já para não falarmos do vergonhoso veredito que libertou
um conhecido nazi das suas obrigações condenatórias para se ir juntar ao bando
de criminosos nazis internacionais, e assim conseguir armas e contactos para
prosseguir as actividades ilícitas, racistas e xenófobas no nosso país.
Por fim a Paz. Falar de Paz quando só
por ignorância, má fé ou deformação congénita se pode não deixar de condenar a
invasão russa da Ucrânia a mando de um autocrata de ultra direita nacionalista
chamado Putin, guru da oligarquia, paladino da flat tax tão do agrado dos liberais tugas e dos vistos gold para os seus compatriotas
endinheirados e empenhado financiador da extrema-direita por essa Europa fora:
de Orban ao Vox espanhol, de Le Pen a Salvini, dos brexit’s britânicos à Afd
germânica, tudo gente altamente recomendável e muito amiga do 4.º pastorinho de
Fátima e do bombista do MDLP.
Nada justifica a violação do direito
internacional e, mesmo considerando que a primeira grande derrota desta guerra
é a verdade, a outra é sempre o povo, homens, mulheres e crianças que em nada
contribuíram para os horrores pelos quais estão a passar. Mas não foi só na
Ucrânia que o direito internacional foi e está a ser violado. Relembremos o
Iraque, a Líbia, a Síria, o Afeganistão, a Jugoslávia, o Iemen, a Somália e a
Palestina, só para nos referirmos a situações das quais todos temos ou
deveríamos ter memória, e dos seus milhões de mortos e refugiados, para não
falar da destruição material e económica desses países. Infelizmente, nestes
casos a posição da União Europeia e dos nossos governos foi e é manifestamente
contraditória para com a atual, a que não é alheio o facto de os agressores
serem os EUA, Israel e a Arábia Saudita, a quem prestamos vassalagem e
submissão por motivos económicos.
Erguemo-nos pela liberdade de opinião,
de pensamento, de crítica, pela tolerância, contra a ditadura do pensamento
único e do maniqueísmo simplista, como se numa guerra ou num conflito fosse
sequer possível explicar ou perceber algo complexo com meia dúzia de palavras
de ordem, como se estivéssemos no twitter
a contar os caracteres para não exceder o limite da mensagem.
A nossa total e completa solidariedade
vai para com os refugiados desta e de todas as guerras. Não aceitamos que os
refugiados provenientes do Iraque, da Síria ou da Líbia sejam barrados nas
fronteiras da Hungria ou da Polónia, onde também subsistem dois “exemplares” governos
de extrema-direita, erguendo muros e barreiras para quem tem a pele morena ou
negra, recambiando-os para a Turquia de Erdogan, a quem a União Europeia paga
balúrdios para suster refugiados nas suas fronteiras. O mesmo Erdogan que
pratica os mais abjectos crimes de guerra contra o povo curdo e apoia
firmemente a ofensiva genocida do Azerbaijão na Arménia. Estamos perante, como
alguém lhe chamou, as “barreiras de auto-preservação geográfica”, conceito que
tenta ilibar das responsabilidades todos aqueles que nesta dita Europa
civilizada ainda exibem preconceitos com base na cor da pele, da religião, da
ideologia ou do país de nascimento.
Sabemos como a direita portuguesa se tem esforçado ao longo das últimas décadas para apagar a história, mas por mais dinheiro que despejem nos media dominantes, conclui-se que as atrocidades que o exército russo a mando do tirano Putin está a fazer na Ucrânia, ou o que batalhão nazi Azov fez na região do Donbass nos últimos 8 anos, é exactamente igual àquilo que o exército português fez aos povos de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau durante a guerra colonial a mando do tirano Salazar. Massacres como os de Wyryamu (Moçambique, 16-12-1972), Mueda (Moçambique, 16-06-1960), Pidjiguiti (Guiné-Bissau, 03-08-1959), Batepá (São Tomé e Príncipe, 03-02-1953) e Cassanje (Angola, 04-01-1961), são páginas negras da história de Portugal e que são convenientemente chutados para o rodapé da História, recauchutados com o vasto eufemismo de “Descobrimentos”, quando se englobam num dos actos mais ignóbeis da humanidade que é o Colonialismo. A diferença é que para os russos e oligarcas justificarem a intervenção militar dizem que os ucranianos são todos nazis, enquanto que para Salazar e os seus colonos e fazendeiros os africanos eram turras e terroristas.
Viva o 25 de Abril!
25 de Abril Sempre!
Solidariedade para com todos os povos
vítimas de guerras e refugiados de todo o mundo!
Viva Portugal!
Os eleitos da CDU na Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos,
João Abrantes
Arminda Nunes
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